O diagnóstico de câncer de mama, para muitas mulheres, vem como um choque, acompanhado por medo, incertezas e um turbilhão emocional. Mas também pode ser o ponto de partida para um caminho de cura, transformação e fortalecimento. Felizmente, os avanços na medicina tornaram o tratamento do câncer de mama cada vez mais eficaz, seguro e personalizado.
Neste artigo, compartilho minha visão como mastologista sobre as abordagens terapêuticas atuais e a importância do acompanhamento a longo prazo para garantir não apenas a cura, mas também qualidade de vida.
Entendendo o Tipo de Câncer: Cada Caso é Único
O primeiro passo após o diagnóstico é compreender o tipo e estágio do câncer de mama. Existem vários subtipos, e o tratamento dependerá de fatores como:
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Tamanho do tumor
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Presença ou não de metástases
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Envolvimento de linfonodos
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Tipo histológico (ductal, lobular, etc.)
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Receptores hormonais (estrogênio, progesterona)
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Expressão da proteína HER2
Essas informações são obtidas através de biópsia e exames complementares, como tomografias, PET-CT, ressonâncias, entre outros. Só com esse mapeamento é possível construir um plano terapêutico seguro e eficiente.
As Etapas do Tratamento: Cirurgia, Medicações e Radioterapia
1. Cirurgia
Na maioria dos casos, a cirurgia é uma etapa central no tratamento. Ela pode ser:
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Conservadora (setorectomia/quadrantectomia): quando é retirado apenas o segmento onde está o tumor, preservando o restante da mama.
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Mastectomia: retirada total da mama, indicada quando o tumor é muito grande, multifocal ou quando há forte histórico familiar/genético.
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Reconstrução mamária: pode ser imediata ou tardia, com diversas técnicas que devolvem autoestima e bem-estar.
Também pode ser necessária a avaliação dos linfonodos axilares, que ajuda a definir a extensão da doença.
2. Radioterapia
Indicada principalmente após cirurgias conservadoras ou em casos mais avançados. Tem como objetivo eliminar células residuais e reduzir as chances de recidiva local.
3. Tratamentos Sistêmicos
Envolvem medicações que atuam no corpo inteiro, como:
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Quimioterapia: usa drogas citotóxicas para destruir células cancerígenas. Pode ser feita antes da cirurgia (neoadjuvante) ou depois (adjuvante).
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Hormonoterapia: indicada em tumores com receptores hormonais positivos. Utiliza medicações como tamoxifeno ou inibidores de aromatase.
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Terapia alvo (anti-HER2): como o trastuzumabe, usada para tumores com superexpressão da proteína HER2.
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Imunoterapia: em estudo e uso crescente em tumores triplamente negativos.
Cada paciente pode receber uma combinação desses tratamentos, de acordo com o perfil biológico do tumor.
Acompanhamento: Continuar Cuidando Após o Tratamento
A fase pós-tratamento é fundamental e muitas vezes negligenciada. O acompanhamento serve para:
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Monitorar possível recidiva;
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Avaliar efeitos colaterais tardios da terapia (como osteoporose, menopausa precoce, cardiotoxicidade);
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Apoiar a paciente em sua recuperação física e emocional;
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Trabalhar a prevenção de novos tumores.
Geralmente, o seguimento ocorre com consultas trimestrais no primeiro ano, semestrais nos anos seguintes, e exames de imagem como mamografia, ultrassom e exames laboratoriais.
Na minha prática, também incluo:
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Avaliação da composição corporal;
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Orientação alimentar e de atividade física;
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Apoio para regulação hormonal e melhora da qualidade de vida;
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Encaminhamento a psicólogas, nutricionistas e fisioterapeutas, quando necessário.
Aspectos Emocionais e Humanização do Cuidado
O tratamento do câncer de mama não deve ser apenas um protocolo. Cada mulher tem sua história, seu medo, seu ritmo.
Humanizar o cuidado é:
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Explicar cada passo com clareza;
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Respeitar as escolhas da paciente;
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Escutar mais do que falar;
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Valorizar o acolhimento e o vínculo.
Cuidar do corpo sem esquecer da mente é essencial. Muitas pacientes enfrentam ansiedade, depressão, alterações na autoimagem, medo da morte e culpa. E tudo isso precisa ser validado e amparado.
Qualidade de Vida Durante e Após o Tratamento
A sobrevida do câncer de mama vem aumentando, o que significa que vivemos mais após o diagnóstico. Mas viver mais precisa vir acompanhado de viver melhor.
Algumas abordagens que implemento com minhas pacientes:
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Dieta anti-inflamatória personalizada
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Suplementação inteligente (com base em exames)
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Avaliação da microbiota intestinal
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Incentivo às práticas mente-corpo (como meditação, yoga, respiração consciente)
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Reabilitação física gradual
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Diálogo sobre sexualidade e autoestima
Considerações Finais
O tratamento do câncer de mama é um caminho que pode ser desafiador, mas também repleto de aprendizados, cura e renascimento. A medicina moderna tem muito a oferecer, mas é o olhar humano, individualizado e integrativo que faz a maior diferença na experiência de quem enfrenta essa jornada.
Se você ou alguém que você ama está passando por isso, saiba: você não está sozinha.
Estou aqui para ajudar, acolher e cuidar.
Dra. Gisele Maldonado
Mastologista • CRM/DF 20253 – RQE 16089